Dogão de Maringá: famoso na cidade, lanche virou mascote de time e foi até 'exportado' para outro estado
10/05/2025
(Foto: Reprodução) Maringá completa 78 anos neste sábado (10). Há pelo menos 50 anos o dogão prensado é o queridinho entre os maringaenses. Ele se tornou símbolo do município e foi até reconhecido como prato típico da cidade. Dogão de Maringá: famoso na cidade, lanche virou mascote de time
Quem vive ou já viveu em Maringá, no norte do Paraná, sabe que tão fácil quanto encontrar uma rua arborizada, é encontrar um carrinho ou uma lanchonete que venda o tradicional "dogão". O lanche é popular no Brasil, geralmente chamado de "cachorro-quente", mas o sanduíche feito em Maringá tem seus segredos. A cidade o transformou em símbolo e até reconheceu oficialmente o "dogão" como prato típico da cidade.
Maringá completa 78 anos neste sábado (10). E há pelo menos 50 anos o dogão prensado é o favorito entre os maringaenses. A fama é tamanha que o lanche virou mascote de time de futebol na cidade e é “exportado” para outros estados. Saiba mais abaixo.
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De acordo com a Prefeitura de Maringá, hoje a cidade tem 126 carrinhos de dogão, além dos estabelecimentos fixos. Quem trabalha vendendo o lanche afirma que, assim como uma visita a pontos turísticos e cartões-postais, quem vem a Maringá faz questão de provar o típico dogão prensado. Em 2017, uma Lei aprovada na Câmara Municipal de Maringá e sancionada pela prefeitura reconheceu o dogão como comida típica da cidade.
Dogão prensado de Maringá
Arquivo pessoal/Guilherme Pedroza
🌭 Como tudo começou
O historiador Miguel Fernando explica que, embora não exista um registro exato de quando ou por quem ele foi criado, o dogão começou a ganhar destaque em Maringá na década de 1970, quando carrinhos e trailers passaram a povoar as noites da cidade.
“Nessa época existiam materiais publicitários veiculados em jornais, ainda de maneira muito precária, falando do lanche como 'cachorrão', com uma arte de cachorro e divulgando esse lanche. Embora a gente não tenha registros de que na época ele já fosse prensado”, contou Miguel.
Anúncio veiculado em jornais antigos de Maringá.
Arquivo pessoal/Miguel Fernando
O sanduíche, criado na Alemanha e adaptado nos Estados Unidos, ganhou diversas variações ao chegar no Brasil, segundo Miguel. Uma delas começou em Maringá, onde o dogão passou a ser prensado após um “carrinheiro” - como é popularmente conhecido o dono de um carrinho de cachorro-quente - ter a ideia de "chapar" o lanche.
“Independente de quem tenha tido a primazia, a ideia foi sensacional de se compor um grande número de insumos para rechear o lanche e promover uma funcionalidade com a chapa que fez com que esse recheio fosse mais confortável para você conseguir morder”, disse o historiador.
Para Miguel, um lanche típico é aquele possível de encontrar em qualquer momento do ano, de fácil acesso e com preço popular. Por isso, o historiador julga que o reconhecimento do dogão é válido, pois o lanche é consumido por diversas classes sociais e é encontrado em vários lugares de Maringá.
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João Viana, avô de Guilherme vendia dogão na década de 70. Neto mantém a tradição da família até hoje.
Arquivo pessoal/ Guilherme Pedroza
Guilherme Pedroza é proprietário do Kikão, estabelecimento que existe desde 1972. O local é considerado um dos mais antigos da cidade a vender o dogão.
Tudo começou em um trailer com o avô dele, José Viana, que faleceu em 2024. Foi ele o responsável por fazer com que a tradição do lanche passasse por três gerações da família.
Segundo Guilherme, no começo, o trailer era de um amigo do avô e ele atuava no gerenciamento. Tempos depois, José comprou o negócio, que hoje é administrado pelo neto. Na época, o lanche ainda não era prensado e o modelo foi sendo implementado aos poucos nos estabelecimentos da cidade, assim como no Kikão.
"Com o passar do tempo, ele foi mudando algumas coisas. Ele viu que a questão do lanche prensado era uma coisa muito bacana e acabou implementando isso na lanchonete e todo mundo gostou", contou Guilherme.
Em 1978, após mudar o trailer de lugar algumas vezes, José Viana estabeleceu um ponto fixo, onde a lanchonete existe até hoje.
Formado pelo "pão de cachorrão", maionese, ketchup, batata palha, salsicha, alface e tomate, o segredo para o dogão ficar ainda mais gostoso é a famosa maionese verde. Na lanchonete de Guilherme, a receita da maionese é segredo de família.
Guilherme e os avós na lanchonete.
Arquivo pessoal/ Guilherme Pedroza
O empresário conta que cresceu com o avô na lanchonete e, quando criança, gostava de ajudá-lo a limpar as mesas. Hoje à frente do negócio, além de se preocupar em sempre manter a qualidade do dogão, o empresário diz que cuidar do relacionamento com os clientes é uma das chaves para manter a tradição e honrar o nome e o trabalho feito pelo avô.
"Nós temos uma ligação com os clientes que não é só pra vender, queremos amizade. É uma herança que ele deixou pra gente, é uma coisa que tem peso pra mim. Então, trabalhar aqui, cuidar disso, é uma questão de honrar o nome dele. E eu tento fazer a mesma coisa que ele fazia: ter esse vínculo com os clientes, fazer com que a lanchonete entregue sempre produto de qualidade, isso é essencial”, afirmou.
Há três anos a família abriu uma segunda unidade da lanchonete em uma universidade de Maringá. Guilherme já pensa em expandir o negócio por outras cidades do Paraná nos próximos anos.
“Tem muita gente que eu conheço, que conheceu a namorada, o namorado, casou, teve filhos, trouxe os filhos aqui e agora já vem com os netos. Então, vir aqui comer o dogão, além de ser uma questão de comer um lanche saboroso, tem a questão da memória afetiva”, destaca o empresário.
🌭 "Exportação" do dogão de Maringá
Luciana (à esquerda) e a mãe Maria Inês (à direita) "exportaram" o dogão de Maringá para São Paulo.
Arquivo pessoal/Luciana Manfré Pastro
O dogão prensado de Maringá fez tanto sucesso que já tem gente "exportando" o lanche para outros estados. Esse é o caso da Luciana Manfré Pastro, que é dona de uma lanchonete de São Paulo chamada Dogão de Maringá. Com 15 anos de história, o negócio é anunciado por ela nas redes sociais como "o legítimo cachorrão maringaense".
Ela viveu em Maringá até os 11 anos e contou que o dogão fez parte da infância dela e da família. Por isso, após se mudarem para São Paulo, uma das irmãs teve a ideia de abrir o estabelecimento, decorando o local com imagens da cidade paranaense.
"Minha irmã e marido movimentaram a lanchonete e administraram por sete anos. Depois voltaram pra Maringá. Hoje já fazem oito anos que eu e minha mãe administramos e nós mantivemos o mesmo sistema que eles colocaram", contou Luciana.
Lanchonete de Luciana em São Paulo tem decoração que homenageia Maringá.
Arquivo pessoal/Luciana Manfré Pastro
Outra ideia da irmã de Luciana foi a escolha dos nomes dos lanches, batizados em homenagem a ruas e cartões-postais de Maringá, como Parque do Ingá, Parque Japão, Avenida Tiradentes, entre outros.
"Quando eles pegam o cardápio você já percebe que alguém é de Maringá. Eles falam: 'olha, eu morava na Tiradentes', 'eu saía naquela área'. Foi muito criativo e chama atenção de quem vem aqui", comentou.
Luciana confessa que quem é de São Paulo estranha um pouco a maneira como o lanche é produzido, principalmente por não ter o purê de batata, que é bastante apreciado pelos paulistanos. Entretanto, a proprietária diz que, quando provam o dogão maringaense, os clientes sempre acabam gostando.
"Eu falo: 'olha, experimenta, vocês vão gostar. Ele é assim, com alface, tomate picadinho e o pão. É muito bom, né? Ele é nosso segredo e vem de Maringá'. Quando provam, eles ficam loucos. Sem contar que é prensado, diferente do que é feito aqui em São Paulo", explicou.
Mesmo produzindo o dogão quase todos os dias, Luciana conta que sempre que volta a Maringá para visitar a família, faz questão de ir comer o lanche em solo maringaense.
Dogão prensado de Maringá vendido pela Luciana em São Paulo.
Arquivo pessoal/Luciana Manfré Pastro
🌭 Dogão virou mascote de time de futebol
O Dogão de Maringá ficou tão famoso que se tornou mascote de time de futebol. Em 2018, ele foi escolhido em uma votação popular e desde então está sempre presente nos jogos do Maringá Futebol Clube.
De acordo com o CEO do time, Clério Júnior, a ideia do mascote surgiu da necessidade de promover uma maior aproximação com o torcedor.
"Nós vimos que o antigo mascote do clube não tinha uma sinergia com a torcida, tinha uma difícil comunicação e conexão com o nosso torcedor, né? Na época a causa animal estava começando a ficar em evidência, com campanhas de não abandono de animais, contra maus-tratos e começamos a discutir sobre a possibilidade de ser um cachorro vira-lata", explicou Junior.
Depois da definição do animal e da criação da roupa por um designer gráfico, o mascote ainda precisava de um nome. Por isso, foram disponibilizadas quatro opções para que os torcedores pudessem escolher. O mais votado foi o nome que homenageava a tradição culinária da cidade: Dogão.
"Ele foi o mais votado porque remete ao principal lanche típico da cidade, que é o cachorrão de rua. Então nós resolvemos também aderir a essa ideia e homenagear Maringá também com o nome desse lanche. Hoje esse mascote é considerado como um dos mais cativantes do futebol brasileiro", diz o CEO.
Dogão é mascote do Maringá FC desde 2018.
Maringá FC
Assim como o lanche, o Dogão do Maringá FC também se tornou querido entre a população, um carinho que vai desde os torcedores mirins até os mais velhos.
"Isso nos enche de orgulho, porque é realmente a conexão que a gente imaginava lá no início, quando a gente criou o mascote. Hoje a gente percebe essa conexão", conclui Júnior.
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